Ultimamente, a comunicação social, tem divulgado várias notícias referindo problemas de violência nas escolas. Descontando o oportunismo e a falta de ética que grassa na construção de algumas dessas notícias, elas deverão preocupar-nos a todos.
Por se tratarem de realidades complexas com génese multicausal e que têm efeitos desvastadores sobre vítimas e agressores, detemo-nos um pouco na análise das possíveis razões, que podem de certo modo, explicá-la em termos de escala.
Antes de mais, manda a verdade dizer, que a violência não é um problema apenas de hoje. Ela sempre esteve presente lado a lado com o ser humano.
Nós os mais velhos, quando passamos pela escola, lembramo-nos bem de várias situações em que a violência estava presente.
Tendo consciência que nessa altura, a falta de liberdade e o atraso económico e social existentes atravessavam toda a Escola, desde logo pelo crivo que apenas deixava passar alguns para a frequentar, permitia a existência de alguns mecanismos que desencorajavam esses comportamentos a partir do “razoável”. Assim, dentro do próprio grupo de pares, havia sempre alguns mais velhos ou mais fortes, que intercediam pelos mais novos e mais fracos, não deixando ultrapassar certas barreiras.
Por outro lado, as escolas possuiam regras que também elas, desencorajavam esse tipo de comportamentos – os alunos sabiam que se ultrapassassem certos limites, apareciam as punições e que essas teriam consequências na continuação da sua formação.
Também as famílias, quando chamadas e confrontadas com acções reprováveis dos seus educandos, para além de não se virarem contra a Escola, faziam o “trabalho de casa”, como educadores de primeira linha.
Importa lembrar que é sobretudo com o 25 de Abril que a Escola se democratiza, de forma a receber no seu seio muitos alunos que antes eram dela afastados. De igual modo, se as grandes mudanças políticas, sociais e culturais, permitiram o acesso mais generalizado da mulher ao mundo do trabalho, também reduziram em muito o tempo de intervenção dos dois progenitores, no processo educativo dos filhos.
Algumas destas alterações, desejáveis e necessárias e a vivência duma liberdade durante tantos anos negada, desencadeou uma ânsia enorme para recuperar o tempo perdido. Talvez essa pressa, tenha levado à adopção de medidas exageradamente embuídas pelo politicamente correcto, que teve como consequência a Escola mais ingovernável como hoje se nos apresenta.
Mas para melhor tentar comprender os factores responsáveis pelo fenómeno que atravessa as Escolas hoje, importa debruçar-nos sobre a criança enquanto criatura que se desenvolve e se constrói sujeita a várias influências.
A criança é um ser bio-psicossocial e espiritual. A sua realização enquanto ser humano, tem em conta as suas necessidades biológicas e psicológicas, mas também aquelas decorrentes da sua relação com os outros numa sociedade organizada – que tendencialmente deverá estar virada para a realização do bem comum.
A criança é assim um ser integral, que para além da matriz genética, acopla as aprendizagens e normas sociais, os valores morais, o desenvolvimento de uma espiritualidade. Esta última, muitas vezes confundida com a religiosidade tradicional, deverá ter (e tem) um papel primordial na compreensão do ser humano, na sua relação com o mundo e a natureza.
Segundo David P. Farrington (2002), a hiperactividade, a impulsividade, o controle comportamental deficiente e os problemas de atenção, são factores psicológicos que nos permitem prever o aparecimento da violência. Assim sendo, urge que se faça uma intervenção logo que se manifestem estes factores. Para isso seria necessário que se estabelecesse um cordão virtuoso, porque protector, englobando a família e os outros agentes da saúde e educação, de forma a que se operacionalizassem as estratégias adequadas à superação das dificuldades encontradas.
Já referimos que, a família por impossibilidades de vária ordem nalguns casos e por negligência noutros, demite-se dessa sua responsabilidade e espera que outros se encarreguem de tal missão.
Com a entrada para a Escola (a começar na infantil), o cordão atrás referido, deveria ser operacionalizado, mas na maioria das vezes tal não acontece. Algumas escolas, não chegam a tentar sequer, por considerarem que não estão investidas de autoridade bastante, face às manifestações agressivas dos pais, enquanto que outras que o fazem, passam por situações que lhe trazem alguns amargos de boca.
Estamos assim, na presença de problemas cuja responsabilidade pertence a todos, embora em graus diferentes. Mais do que condenar, depois de encontradas as causas, deveremos prover à superação dos problemas que afectam não apenas as vítimas, mas também os agressores, pugnando para que se alterem as condições geradores desse flagelo social.
O agressor, que à partida é um excluído e marginalizado, é com frequência alguém que também já foi agredido, pelo que há que ter em atenção essa dupla punição.
Para finalizar e porque vivemos num tempo em que tudo (ou quase tudo), foi tocado pelo monstro da globalização, com o seu poder sem rosto declarado e assumido, onde as notícias e imagens circulam a velociodades vertiginosas, façamos apenas mais um pequeno exercício.
Estamos em época farta de "muito saber" trazido por um imenso exército de Especialistas que "calcaestrumando", conjecturam, investigam, diagnosticam, planificam e implementam soluções, que põem a descoberto e até potenciam, cada vez mais fragilidades à sociedade dos simples e indiferenciados mortais.
A título de exemplo, coloquemos os nossos olhos nos especialistas da Economia, que embora tendo ao seu serviço recursos humanos, financeiros e tecnológicos extraordinários, não conseguem criar barreiras ao vergonhoso caudal de um "Império da Vergonha" assente na iniquidade, que representa a desigualdade no acesso ao mínimo necessário à vida de muitos.
Estes especialistas, são incapazes de apresentarem propostas aos decisores políticos, que comportem a verdadeira aprendizagem das mais simples operações matemáticas.
Poderiam exercitar a operação da divisão, através da cedência dos bens que se produzem em excesso no mundo, somando-os aos parcos existentes nos países mais pobres e com problemas de alimentação. Com isso treinavam uma outra operação, (diminuindo) as carências existentes, ao mesmo tempo que multiplicavam as possibilidades de sobrevivência de todos aqueles que se encontram numa situação abaixo do limiar mínimo de pobreza.
E eu,que não sou especialista de coisa alguma, qual coração que sente e atento aos fenómenos que se desenvolvem à sua volta, pela mão do bulling aqui trouxe a Escola, também ela recheada de muitos especialistas.
Espera-se deles, para fazer jus a esse título, que ajudem a superar as dificuldades, a desbravar caminhos que indiquem um verdadeiro rumo para a formação integrar do Homem.
Mas não é isso que se está a passar nas nossas Escolas, pelo menos na sua maioria. Mas em nome da verdade, teremos que reconhecer que muitas há que conseguem, apesar das dificuldades, realizar um bom trabalho educativo.
José Augusto de Jesus Roque
S. Pedro do Sul, 19 de Março de 2010
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