2010/02/23

Caixa Agrícola de Lafões: a Direcço que se demita!!!...

Confesso que não sou daqueles que têm da vida empresarial uma perspectiva emocional.

Investir é uma actividade de risco, e isso obriga que seja a razão a determinar as opções empresariais.

A empresa tem de gerir os bens escassos que lhe são postos á disposição tendo em vista a obtenção dos maiores lucros possíveis.

Sem lucros a empresa em um ente inviável e a sua morte implica um conjunto de fenómenos de repercussões negativas em todo o tecido social.

A racionalidade é assim, do meu ponto de vista, o correcto modo de agir empresarial, tendo em vista o fim social na criação de riqueza.

Uma empresa não é só a relação da sua administração com o mercado onde ela está inserida e com aquele para o qual ela está vocacionada. A empresa é muito mais do que isso, são também os seus trabalhadores e os seus accionistas.

As opções empresarias para liderarem têm primeiro de convencer para depois vencerem. É essencial, por isso, que sejam facilmente perceptíveis, entendíveis, assimiladas e aceites pelo mercado, trabalhadores e accionistas.

A existência de ruído que leve a um bloqueio comunicacional entre a empresa, o mercado, os seus trabalhadores e os seus accionistas, impedindo, ou pior, distorcendo a mensagem que corporiza as opções estratégicas da administração, pode levar ao fracasso da empresa.

Falar verdade é, por isso, fundamental na vida empresarial.

Tudo isto para dizer que vejo com muita preocupação o que se está a passar na Caixa Agrícola de Lafões.

Se estrategicamente, numa perspectiva de viabilidade para o futuro da instituição, a opção acertada é a da sua unificação com a Caixa Agrícola das Terras de Viriato, pois que se faça a mesma tão urgentemente quanto possível. Cada dia passado pode ser um dia perdido na defesa do mercado próprio onde ela actua, dos postos de trabalho dos seus colaboradores e de perdas para os seus associados.

Se há um problema, é obrigação dos órgãos sócias, mormente da Direcção, estudá-lo e apresentar fundadas soluções para o mesmo, discutindo-as com o mercado, com os trabalhadores e com os associados.

Infelizmente não foi nada disso que se passou.

O que tem vindo a acontecer na instituição nestes últimos meses é, numa linguagem moderada, própria para ser usada na comunicação social, uma verdadeira trapalhada, ao ponto de hoje ser legítimo questionar se é ou não verdade que haja um problema. Logo, se há dúvidas sobre a existência do problema deixa de ser necessária a solução da unificação.

À inexistência de um discurso simples, concretizável através de factos de veracidade indiscutível, facilmente entendível por todos, respondeu o mercado, os trabalhadores e os associados através de argumentos nada empresariais, verdadeiro blá,blá, blá de escola primária: que a sede saía de Lafões, que os impostos passavam a ser pagos fora da região, que os trabalhadores iriam ser despedidos, que para os órgãos sociais iam pessoas que ninguém conhece, blá, blá, blá. Contrapôs a Direcção que não era bem assim, porque até ficavam determinadas pessoas da região nalguns dos órgãos sociais, que as instalações da sede ficariam em S. Pedro, que os postos de trabalho estavam assegurados…. blá, blá, blá… Até a Assembleia Municipal se meteu ao barulho!!!... Verdadeira conversa de surdos. Conversa da treta. Toda a gente a falar, a falar, mas a não dizerem nada.

Se a instituição não for financeiramente viável, aí sim, lá se vai a sede, os impostos, os postos de trabalho, os lugares nos órgãos sociais.

O que me interessa saber é a verdade. Há ou não um problema. Se há, então ele tem de ser resolvido e por isso é necessário descobrirem-se as acertadas soluções. Não conheço outro caminho.

Acontece que com toda esta trapalhada foi exponencialmente agravada na última Assembleia Geral Extraordinária marcada para uma 5ª feira às 14horas.

Sinceramente, não há explicação entendível para se admitir que se faça a discussão de uma questão tão importante para a vida da instituição, como seja a dela poder vir a unir-se com outra, somente cerca de 6 meses depois desse tema ter sido discutido em Assembleia bastante concorrida e aí ter sido rejeitado de forma democraticamente indiscutível. Que facto novo ocorreu que justificasse uma nova Assembleia?

Depois, porquê numa 5ª feira às 14h. Porque não ao Sábado da parte da tarde, altura da semana onde consabidamente as pessoas têm maior disponibilidade para poderem participar no debate?

O alarido social e a indignação contra este modo de agir levou a que a última Assembleia tornasse a ser bastante concorrida e, espanto dos espantos, a Direcção escreveu ao Exº Sr. Presidente da Assembleia Geral informado que retirava da Ordem de Trabalho todos os pontos para a qual ela havia sido convocada, com o peregrino e incrível argumento de que o Sr. Presidente do Conselho Fiscal tinha pedido a demissão….

Mas o que é que uma coisa tem a ver com a outra???!!!.....

Em face do sucedido, parece-me que o descrédito em que a Direcção da Caixa caiu é de tal modo que, em defesa dos interesses da instituição, valor supremo a defender, só há uma sida: a demissão.

João Carlos Gralheiro, 22 de Fevereiro de 2010

2010/02/07

QUE FUTURO PARA O VINHO DE LAFÕES, Reflexões sobre um Debate

QUE FUTURO PARA O VINHO DE LAFÕES
Reflexões sobre um Debate
Organizado pela Gazeta da Beira e difundida pela Rádio Vouzela, realizou-se na noite da passada sexta feira, dia 05/02/2010, um debate subordinado ao tema: “Que futuro para o Vinho de Lafões”.
No debate, que foi moderado pelo Dr. Arsénio Martins, participaram deputados da Assembleia da República, um dos quais é o presidente da comissão de agricultura; investidores e investigadores na área da vitivinicultura e das actividades económicas a ela associadas, como o enoturismo; actuais e antigos dirigentes da Adega Cooperativa de Lafões (a mais antiga adega cooperativa do país, a passar momentos de enorme dificuldade, que põem em causa a sua viabilidade financeira); representantes locais de alguns dos partidos com assento parlamentar (CDS. BE, PCP e Verdes), para além do muito público que encheu por completo o auditório da Rádio Vouzela, local onde a iniciativa teve lugar.
Se as entidades envolvidas na idealização e concretização da iniciativa estão de parabéns pelo evento, também o estarão, certamente, os intervenientes no debate que, com a qualidade das reflexões que compartilharam com todos quanto, ao vivo, através do sinal de rádio ou da internet, o acompanharam, o elevaram a um verdadeiro fórum, onde a análise dos sintomas, o diagnóstico desse quadro sintomatológico e a terapia para a recuperação do mesmo terão, obrigatoriamente, de ser levados em consideração em quaisquer outras análises futuras desta problemática.
A questão colocada para reflexão aos palestrantes tinha em si mesmo todos os condimentos necessários para a abordagem do tema. Na verdade, perguntar-se “que futuro para o Vinho de Lafões” implica uma dupla análise: uma subjectiva, onde a questão nuclear é “que futuro”, e outra objectiva, ancorada na realidade “Vinho de Lafões”.
A combinação destes dois elementos, atenta a realidade concreta em análise, implica aceitar-se a premissa da existência de um passado e de um presente que representam um lastro histórico-antropo-sociológico de tal modo importante para a região e para o país que obriga reflectir sobre o seu futuro. Se isso não acontecesse, isto é, se o objecto de análise não tivesse qualquer tipo de relevância na compreensão das indiossincracias de um povo, entendendo-se este como uma realidade sociológica num determinado tempo histórico, com todas as suas valências de interacção, não seria objecto, por parte de pessoas oriundas de áreas tão diversificadas como sendo as do conhecimento puro (os académicos) do conhecimento prático (os investidores e os dirigentes associativos) e as do conhecimento combinado destes dois saberes (os políticos), de análise especulativa e reflexiva.
Atenta a natureza muito específica do solo existentes nesta região de Lafões, ao seu clima e às castas plantadas nas propriedades agrícolas, aceita-se que o Vinho de Lafões tem características organolépticas (cor, brilho, sabor, odor e textura) muito próprias, que o fazem distinguir de todos os demais vinhos: não é um vinho maduro, mas também não é um vinho verde.
Ora, esta sua particularidade fez com que, quer ele quer a aguardente vínica dele derivada, já tivessem sido produtos de elevada qualidade, ao ponto de, pelo menos o vinho ter recebido algumas medalhas de ouro em importantes certames internacionais vitivinícolas.
O conhecimento dessa mais-valia e a percepção dos dividendos financeiros que a lavra, colheita, produção e comercialização deste produto autóctone traria, fez com que os agricultores de Lafões tivessem, na segunda metade dos anos 40 do século passado, criado a Adega Cooperativa de Lafões, que foi a entidade que projectou para todo o lado, quer no país, quer no estrangeiro, este nosso bem.
Com a entrada de Portugal na União Europeia, a aplicação das regras da Política Agrícola Comum, a abertura da nossa economia aos especuladores mundiais, a opção centralizadora do estado, tudo isto combinado fez com que este nosso produto fosse definhando ao ponto de se lhe ter já anunciado a sua entrada num processo de morte lenta, no dizer da Srª Professora Leonor Corte Real e do jovem Pedro Mouro. Na verdade, em razão das opções de política económica que nos são impostas pela União Europeia em benefício dos grandes grupos económicos, levaram a que os nossos agricultores fossem deixando ao abandono as suas propriedades, fazendo hoje perigar a nossa autonomia alimentar, por inexistência de capacidade produtiva própria para alimentar o país. A isto associam-se negativamente as políticas de permissão dos grandes grupos económicos oferecerem aos produtores preços muito baixos pela aquisição dos bens que eles produzem, para depois serem vendidos a preços elevados nas grandes superfícies; as políticas fiscais altamente penalizadoras comparativamente com as dos países que connosco concorrem directamente e o elevado custo dos factores de produção, como sendo os combustíveis, adubos, energia eléctrica.
No quadro das reais grandes opções estratégicas, dos partidos do denominado “arco governativo” (do CDS ao PS) que têm governado este país desde o 25 de Novembro de 1976, tem havido uma clara desconsideração pelo interior em benefício das zonas litorais. Na prossecução destas reais opções tem-se vindo a ver uma permanente deslocalização, lenta desactivação e mesmo extinção dos serviços regionais, de apoio à agricultura em particular e á vida no interior em geral.
Este quadro levou a que os agricultores abandonassem as terras, os jovens as aldeias e vilas (hoje alguma delas cidades…), pelo que a pouca agricultura que ainda se vai fazendo nesta região ocupa uma reduzida área do solo disponível e é feita genericamente por idosos sem qualquer tipo de formação técnica ou apoio nesse nível.
Obviamente que, tal como acontece a quase todos os produtos agrícolas, em razão da miséria em que os agricultores foram lançados pelas políticas nacionais e europeias, também o Vinho de Lafões sofre com este quadro um corte na sua capacidade produtiva, quer em quantidade quer em qualidade: hoje é muito pouco o Vinho de Lafões que se produz e mesmo esse é de baixa qualidade. A agravar este quadro negro temos as recentes medidas aprovadas pela Organização Comum dos Mercados, já ratificadas pela União Europeia, que virão permitir a entrada em Portugal de vinhos a poderem-se chamar de Lafões, feitos num qualquer canto deste globo que não a nossa região e, bem assim, a poderem ser feitos com a adição de sacarose, o que os torna consabidamente mais baratos, mas que não são efectivamente vinhos verdadeiros, com isto se beneficiando apenas os produtores franceses ou alemães de beterraba, uma vez mais, em detrimento dos nossos agricultores e, no caso particular, deste específico produto regional que é o Vinho de Lafões.
Apesar de todos estes ataques a verdade é que, em resultado de estudos estatísticos feitos pelo académico Doutor Alfredo Simões, Lafões é uma denominação percentualmente bastante conhecida dos portugueses e, dentro dos que afirma conhecer esta região, uma elevada percentagem diz conhecer o Vinho de Lafões. O grave problema é que este saber é uma realidade imputada a um sector da população nacional com idade mais avançada. Isto é, os jovens cada vez mais conhecem cada vez menos este produto regional.
Temos assim um produto que já deu provas de ser um bem de qualidade vendável e lucrativo que fruto de opções políticas erradas tem vindo a definhar. Assim sendo, ao segmento objectivo da questão posta à reflexão podemos responder que há um Vinho de Lafões.
Depois de feita uma sucinta análise ao segmento subjectivo da questão, na vertente da análise histórica do que foi e do que é a realidade do Vinho de Lafões, importa agora debruçarmo-nos sobre a vertente de futuro desse produto: que futuro para o vinho de Lafões.
O mundo em que vivemos é este e, como diz uma pessoa minha amiga, “o que tem de ser tem muita força”. Não interessa por isso pensar em respostas para esta questão tendo como premissa um outro país ou este país com outras opções estratégicas, quer a nível nacional que a nível da sua integração e relacionamento nos e com os grandes espaços e organizações económicos mundiais. Vivemos numa economia de mercado, estamos na União Europeia, na Organização Comum dos Mercados e na Organização Mundial do Comércio. Esta é a nossa realidade política. A globalização das economias faz com que Lafões esteja em concorrência directa com toda e qualquer outra região do mundo que produza vinhos e que procure consumidores para os seus produtos.
O que é que Lafões tem para oferecer neste mundo globalizado? O que tem de melhoro é o seu “atraso”, que permitiu que as suas belezas naturais (serras, vales, rios, aldeias típicas, caça e pesca, desportos radicais), as suas termas (termalismo, fisioterapia, spa), a sua gastronomia (vitela, cabrito, doçarias vinhos), o seu património histórico e antropológico (pedra de Serrazes, cárcoda de Carvalhais, Torre de Vilharigues, pedras pintadas de Benfeitas, ranchos folclóricos, grupos de cantares, etc.), a amizade, simpatia e prazer de bem receber e acolher das suas gentes, não tivessem sido poluídas e descaracterizadas pelo crescimento desmesurado das sociedades de consumo. Aqui “the small is beautifull” (o pequeno é bonito). É exactamente isso que temos de bom para oferecer, o nosso “atraso”, o sossego, tranquilidade e pureza o das nossas paisagens, ares, águas e produtos regionais, para aqueles que vivem nas evoluídas cidades, metidos horas e horas dentro de carros em intermináveis filas de trânsito a respirarem CO2; que bebem água bacteriologicamente pura mas moralmente impura; que vivem em infindáveis arranha-céus onde não conhecem sequer o vizinho da frente e que comem apenas aquilo que o supermercados lhes dá, não sabendo de onde e como esses produtos provieram. Isto é, Lafões tem todas as condições objectivas para se poder acreditar que tem capacidades para oferecer produtos de elevadíssima qualidade na área do turismo.
Para tanto necessário se torna congregar vontades, no sentido de se definir um plano estratégico de desenvolvimento, planos de acção, nas palavras do Sr. Engenheiro Vítor Martinho, a longo prazo para a região, criando-se parcerias entre as autarquias, o sector privado, cooperativo, social (as Assembleias de Compartes dos baldios), as organizações ligadas ao sector agrícola e ao desenvolvimento regional e do mundo rural, os agentes culturais e desportivos e as escolas, como se de um verdadeiro “cluster” industrial se tratasse, que, com o apoio da administração central e com o recurso aos fundos disponíveis, designadamente aos comunitários, tivesse por objectivo a criação das infra-estruturas, da promoção e da exploração desse complexo produto turístico.
Desse projecto, e no que tange ao Vinho de Lafões, será indispensável a aposta na qualidade. Pelas limitações naturais do espaço geográfico colocado à disponibilidade da produção deste produto não se pode almejar atingir vastos mercados, usando-os assim factores multiplicadores na obtenção de lucros na sua comercialização. Não. Isso não será possível. O espaço é limitado, a realidade fundiária é a que é, onde a maioria da propriedade rural agrícola tem áreas muito pequenas. Assim, a aposta tem de ser, numa primeira fase em “target” (alvos) regionais. Ter-se-ão de ganhar os Lafonenses para o consumo desse seu produto. Nos Restaurantes, Hotéis, Pensões, Casas de Turismo Rural, Cafés da região ter-se-ão de ganhar os clientes para o seu consumo. Após a consolidação do produto no mercado alvo desta primeira fase, e em razão da mesma, dever-se-á partir, então, para uma segunda fase, onde o “público-alvo” já será definido por nichos de mercado de média elevada capacidade económica (aquele público que se deseja tenha ficado fidelizado ao produto em razão do consumo feitos na restauração regional) e aquele que se irá ganhar com concertadas e correctas campanhas de promoção do seu consumo. Para além da qualidade, nesta concorrência global, o Vinho de Lafões terá de oferecer outras mais-valias relativamente aos produtos congéneres que deverão ser a inovação do design colocado na sua apresentação e à agressividade do marketing na sua promoção junto do mercado composto pelo público-alvo.
Para se obter a desejada qualidade será indispensável, tal como referenciou o Sr Engenheiro António Aido, a intervenção das Universidades e de outras Escolas de Ensino Superior no sentido de se definirem as adequadas castas a plantar, trabalhando-as geneticamente, se necessário for, no sentido de potenciar todas as suas capacidades produtivas e de resistência aos ataques próprios da natureza, designadamente aos climatéricos, estudando, por exemplo os feitos que a futura barragem de Ribeiradio possam vir a ter sobre a produção do Vinho de Lafões, questão esta pertinentemente colocada pelo Sr. Geógrafo Nuno Miguel Martins; definindo os adequados terrenos, adaptando-os, se isso for exigido, organicamente para o mesmo objectivo; auxiliando os agricultores em toda as fases posteriores até à colheita, de modo a se obterem uvas de elevadíssima qualidade e, finalmente, definindo as mais correctas técnicas de fabrico, engarrafamento, armazenamento e distribuição, bem como ajudando a restauração no sentido de serem aplicadas boas e idênticas práticas na apresentação para consumo e consumo propriamente dito, tudo isto para que o produto final possa ser oferecido ao consumidor como produto de elevada qualidade. Nesse trabalho ter-se-á de ter em consideração a necessidade de se assegurar uma qualidade média muito próxima em todas as campanhas, de modo a não se defraudarem os consumidores de um ano para o outro.
Modernidade na criação do produto final e na sua apresentação e agressividade na sua promoção implicam, nas palavras do Sr. Engenheiro Casimiro Gomes, uma alteração de mentalidades, que, em princípio exigirá alterações geracionais na produção e comercialização do Vinho de Lafões. Lafões necessitará de jovens agricultores a gerir as explorações agrícolas e de jovens comerciantes a vender esse nosso produto, uma vez que a juventude é mais apta para absorver e adaptar os modos de fazer às adequadas técnicas e, bem assim, está mais aberta para soluções associativas que permitem, nas palavras do Sr. Enólogo João Paulo Gouveia, ganhos com economias de escala. Aliás, a prova da existência dessa modernidade foi constatada pela presença e participação do jovem Pedro Mouro, que com pouco mais de 20 anos aceitou agarrar e dirigir um projecto agrícola familiar na nossa região (parabéns Pedro pela coragem e pelo sinal positivo de esperança no futuro que representa esse seu gesto, numa região envelhecida e deprimida).
Como acima se deixou dito, a viabilidade deste projecto passa por uma concertada e efectiva intervenção dos poderes nacionais e locais, e isto porque, conforme frisou o Doutor Pedro Soares, a questão do Vinho de Lafões não é um problema exclusivo dos Lafoneneses, mas antes sim de todos. Portugal é o que é porque é composto de uma antropo-diversidade que assegura a sua identidade, unidade e coesão social. Tal como na natureza, na estrutura social o desaparecimento de um produto consabidamente enraizado na cultura e hábitos da nossa região é uma perda imediata para a região, mas também o será para o todo nacional. Se aceitarmos a inevitabilidade e inelutabilidade desses tipos de fenómenos acabamos por admitir o desaparecimento do que nos torna diferentes e melhores. O que nos faz beber um bom vinho em vez de uma coca-cola ou de comer um bife de uma boa vitela em vez de um hambúrguer. São estas pequenas coisas que também serviram para nos afirmarmos no concerto das nações como o país com as fronteiras mais estáveis e antigas da Europa.
A compreensão desta vertente nacional do problema levou a que os Senhores Deputados presentes tivessem assumido o compromisso, se essa fosse a vontade real das forças vivas da região, de levar a questão do Vinho de Lafões à Comissão de Agricultura da Assembleia da República, podendo esta vir a chamar os autarcas da região para, em conjunto com eles, se analisarem soluções e métodos de as alcançar, de modo a evitar a anunciada morte lenta do Vinho de Lafões.
E qual o papel da Adega Cooperativa de Lafões neste projecto? Antes de tudo terá de deixar de ser parte do problema e passar a ser parte da solução. Ela, conjuntamente com as demais estruturas do sector cooperativo e social da região deverão ser as “organizações âncoras” da dinamização e credibilização deste projecto. Deverá ser em tais estruturas que ele terá de ser alavancado, uma vez que elas, melhor do que ninguém, conhecem os concretos proprietários e produtores vinícolas da região, as suas necessidades, dificuldades, anseios, e estes, por outro lado, nelas confiam, uma vez que, pela relação de proximidade que com elas e seus dirigentes mantêm, também as conhecem, sabendo que sobre elas e seus dirigentes podem exercer um mais apertado, efectivo e positivo poder de controlo. Depois, são essas estruturas, designadamente a Adega Cooperativa, que já detêm o “know how” (saber fazer) e os meios necessários para a produção e comercialização do novo Vinho de Lafões. Serão para elas que todos os input necessários ao bom desenvolvimento do projecto terão de ser canalizados e será delas que terão de partir todos os outputs indispensáveis ao êxito do mesmo.
Uma última palavra, notou-se a ausência dos Srs. Presidentes de Câmaras da região no debate. Quero crer que tal se ficou a dever a questões alheias à vontade dos mesmos, pois custa-me a acreditar que intencionalmente e sem qualquer justificação plausível e aceitável, os mesmos tenham querido faltar a um debate tão importante para a região que ocupa o espaço geográfico e a população dos municípios que eles representam.

S. Pedro do Sul, 07 de Fevereiro de 2010
João Carlos Gralheiro