Não posso, não devo, nem como homem, nem como pai, nem como educador, fazer de conta que não soube (por estes dias) que a Confederação Nacional das Associações de Pais propõe que as nossas escolas venham a funcionar durante 12 (dozzzzzzzzze) horas ao dia, presumo que excluídos Sábados, Domingos e Feriados!... A ser sincero, preferiria não o ter escutado sequer, que a razão existencial primeira da dita proponente é, tenho fé que o seja, defender crianças e adolescentes enquanto crianças e adolescentes, enquanto filhos, enquanto educandos. Como defensor ferranho do direito à liberdade, nomeadamente, à liberdade de expressão e de opinião, por obrigado me tenho em ouvir o(s) outro(s), concordando ou não, contrapondo ou não, justamente também eu em pleno exercício delas. Mas (e ele haverá sempre um mas!) tal direito supremo obriga (nos) ao denominado comummente por "sentido de responsabilidade", no caso, que se argumente, que pesemos bem o quanto dizemos, o quanto escrevemos, de acordo? Caso não, tenho para mim que a indispensável honestidade de pensamento e de palavra se botará de imediato em causa, logo, também a referida liberdade de opinião, já que indissociáveis as duas, certo? (Me) questiono, pois: ora, se é constatado, se é sabido por nós (educadores, pais, pedagogos, psicólogos, médicos especialistas...) que de há muito que a Criança passa tempo a mais nas escolas, em jardins de infância, nas creches, em ATLs... em detrimento de todo aquele que deveria partilhar com os pais, com os irmãos e com os avós, em suas casas e nas dos avós, em ritmos, espaços e actividades pluridisciplinares diferenciadas, por que razão (repito-me), por que raça de razões necessárias ao seu crescimento, ao seu desenvolvimento global e harmonioso, é que há-de ela agora passar a "secar" (meio dia ao dia!) na Escola, porquê?!... Ah, pois, é que nós, pais, não podemos estar com eles (com os nossos filhos, os nossos educandos, as nossas crianças!); carecemos de tempo e de disponibilidade, percebe? Sim, claro, demitidos os pais, falho o seu papel insubstituível de pais, de educadores, a Escola que se vire, que se (re)organize, que se (re)formule, substituindo-os!... Não, meus senhores, o papel educativo da Escola é (salvo excepções devidamente sinalizadas) de complementaridade e não de substituição. Não vos demiteis, combinado? Ora venha daí comigo: a construção da "Escola de Massas" assentou, assenta em concepções burocráticas que perspectivam a justiça em termos de tratamento impessoal, opostas, pois, à evolução das ideias pedagógicas valorizando a "pessoalidade". É a chamada democratização do ensino em que, conforme Formosinho (1997), a evolução institucional da Escola se encaminhou no sentido de uma estrutura uniforme e estandardizada. Todavia, é igualmente sabido que a evolução das ideias pedagógicas caminhou em sentido contrário, implicando uma "pedagogia flexível" e uma "pedagogia diversificada" que se adaptem às diferenças de cada educando. Daqui ter antes sublinhado que a evolução institucional da Escola se tem oposto à implementação efectiva dos modelos pedagógicos, contradição que (ainda segundo Formosinho) é factor responsável pelo sentimento de mal estar e até de crise na Educação escolar. Vai daí que, contrariamente até ao redito "bom senso comum", saltam da cartola socrática Dona Lurdes mais seus "mais-que- tudo" e, claro está, seu estimado "bode expiatório": os docentes de Portugal!... Eureka!... Eis, finalmente, meus senhores, a chave do problema; eis, já agora, igualmente, a chave da solução: acabe-se com estes "professorzecos", debandem eles, punidos, penalizados, para a refo(r)mita, para um outro "carreiro", para a "bolsa" que se lhes aprouver ou tão só para poiso de "titulares" do arremedo, da chacota, ok? É, o que está decidido decidido está: bem sei que os perdi, bem o sei, mas a verdade é que o povo está comigo!... É, o que é preciso, o que é urgente é uma Escola a tempo inteiro, combinado?... (Calha não calha? A maioria dos pais até despega a essa hora...) Os "...zecos" que se cuidem, que se amanhem, que se...! Malandros, preguiçosos, é o que eles são, ou não sabieis?!... Seja ele trabalho individual, seja ele trabalho de escola, seja apenas e só "fardo estatístico-burocrático", não interessa; seja lá ele o que for, o que foi decidido, o que restará para a História é que José foi o pai e Maria a mãe. O(s) Menino(s) que se ergam das palhinhas com as estrelas, que bocejem em carrinhas pela matina, que virem costas aos campos e às serras, que abandonem vacas, burros e demais, que se ajuntem e se amontoem por entre paredes de betão, corredores armados até de cacifos, de tons, de sons e de gente da alvorada ao entardecer os mesmos (sempre os mesmos!) de Segunda a Sexta... todas as semanas... todos os meses... ano após ano... _ Verdade, vizinha, o meu Joãozinho até já fala Inglês, veja só!... E música, aquilo é qu'ele gosta de música!... Cá por mim, bem que o metia no karaté... na ginástica... na natação... mas (sabe como é, vizinha) os euritos não esticam!_ ... nem o teeeeeeeeeeeeempo!!! (exclamou-lhe) Por falar em "tempo": a resposta que a Escola e o Jardim de Infância e a Creche e o ATL... fornecem às pressões sociais advindas, precisamente, da colonização do tempo futuro, conduzirá, de facto, a uma Educação sucedida para a flexibilidade, a imaginação e a criatividade que o risco e a incerteza demandam? E já agora, meus senhores: como se comportará (num futuro breve) uma sociedade formada por adultos a quem (na infância!) lhes retiraram o tempo de infãncia, o direito ao tempo para brincar, aprisionando-a (12 horas ao dia!) na cadeia da busca do (reeeeeeeeeedito!) sucesso? 24 de Março de 2009 jão cerveira