Confesso que não sou daqueles que têm da vida empresarial uma perspectiva emocional.
Investir é uma actividade de risco, e isso obriga que seja a razão a determinar as opções empresariais.
A empresa tem de gerir os bens escassos que lhe são postos á disposição tendo em vista a obtenção dos maiores lucros possíveis.
Sem lucros a empresa em um ente inviável e a sua morte implica um conjunto de fenómenos de repercussões negativas em todo o tecido social.
A racionalidade é assim, do meu ponto de vista, o correcto modo de agir empresarial, tendo em vista o fim social na criação de riqueza.
Uma empresa não é só a relação da sua administração com o mercado onde ela está inserida e com aquele para o qual ela está vocacionada. A empresa é muito mais do que isso, são também os seus trabalhadores e os seus accionistas.
As opções empresarias para liderarem têm primeiro de convencer para depois vencerem. É essencial, por isso, que sejam facilmente perceptíveis, entendíveis, assimiladas e aceites pelo mercado, trabalhadores e accionistas.
A existência de ruído que leve a um bloqueio comunicacional entre a empresa, o mercado, os seus trabalhadores e os seus accionistas, impedindo, ou pior, distorcendo a mensagem que corporiza as opções estratégicas da administração, pode levar ao fracasso da empresa.
Falar verdade é, por isso, fundamental na vida empresarial.
Tudo isto para dizer que vejo com muita preocupação o que se está a passar na Caixa Agrícola de Lafões.
Se estrategicamente, numa perspectiva de viabilidade para o futuro da instituição, a opção acertada é a da sua unificação com a Caixa Agrícola das Terras de Viriato, pois que se faça a mesma tão urgentemente quanto possível. Cada dia passado pode ser um dia perdido na defesa do mercado próprio onde ela actua, dos postos de trabalho dos seus colaboradores e de perdas para os seus associados.
Se há um problema, é obrigação dos órgãos sócias, mormente da Direcção, estudá-lo e apresentar fundadas soluções para o mesmo, discutindo-as com o mercado, com os trabalhadores e com os associados.
Infelizmente não foi nada disso que se passou.
O que tem vindo a acontecer na instituição nestes últimos meses é, numa linguagem moderada, própria para ser usada na comunicação social, uma verdadeira trapalhada, ao ponto de hoje ser legítimo questionar se é ou não verdade que haja um problema. Logo, se há dúvidas sobre a existência do problema deixa de ser necessária a solução da unificação.
À inexistência de um discurso simples, concretizável através de factos de veracidade indiscutível, facilmente entendível por todos, respondeu o mercado, os trabalhadores e os associados através de argumentos nada empresariais, verdadeiro blá,blá, blá de escola primária: que a sede saía de Lafões, que os impostos passavam a ser pagos fora da região, que os trabalhadores iriam ser despedidos, que para os órgãos sociais iam pessoas que ninguém conhece, blá, blá, blá. Contrapôs a Direcção que não era bem assim, porque até ficavam determinadas pessoas da região nalguns dos órgãos sociais, que as instalações da sede ficariam em S. Pedro, que os postos de trabalho estavam assegurados…. blá, blá, blá… Até a Assembleia Municipal se meteu ao barulho!!!... Verdadeira conversa de surdos. Conversa da treta. Toda a gente a falar, a falar, mas a não dizerem nada.
Se a instituição não for financeiramente viável, aí sim, lá se vai a sede, os impostos, os postos de trabalho, os lugares nos órgãos sociais.
O que me interessa saber é a verdade. Há ou não um problema. Se há, então ele tem de ser resolvido e por isso é necessário descobrirem-se as acertadas soluções. Não conheço outro caminho.
Acontece que com toda esta trapalhada foi exponencialmente agravada na última Assembleia Geral Extraordinária marcada para uma 5ª feira às 14horas.
Sinceramente, não há explicação entendível para se admitir que se faça a discussão de uma questão tão importante para a vida da instituição, como seja a dela poder vir a unir-se com outra, somente cerca de 6 meses depois desse tema ter sido discutido em Assembleia bastante concorrida e aí ter sido rejeitado de forma democraticamente indiscutível. Que facto novo ocorreu que justificasse uma nova Assembleia?
Depois, porquê numa 5ª feira às 14h. Porque não ao Sábado da parte da tarde, altura da semana onde consabidamente as pessoas têm maior disponibilidade para poderem participar no debate?
O alarido social e a indignação contra este modo de agir levou a que a última Assembleia tornasse a ser bastante concorrida e, espanto dos espantos, a Direcção escreveu ao Exº Sr. Presidente da Assembleia Geral informado que retirava da Ordem de Trabalho todos os pontos para a qual ela havia sido convocada, com o peregrino e incrível argumento de que o Sr. Presidente do Conselho Fiscal tinha pedido a demissão….
Mas o que é que uma coisa tem a ver com a outra???!!!.....
Em face do sucedido, parece-me que o descrédito em que a Direcção da Caixa caiu é de tal modo que, em defesa dos interesses da instituição, valor supremo a defender, só há uma sida: a demissão.
João Carlos Gralheiro, 22 de Fevereiro de 2010
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