2009/01/21

Os jovens e a leitura: uma relação de amor ou ódio?

Muitas das gerações passadas eram sedentas por leitura, contudo, apesar do interesse, muitas delas não possuíam condições financeiras que lhes permitisse adquirir conhecimento através dos livros. Estava-se então na presença de famílias numerosas, onde poucos saíam para estudar, pois era necessário trabalhar para ajudar no sustento da família. O que acontece com a geração actual é justamente o contrário: os jovens concentram grande parte dos recursos financeiros disponíveis nas suas carreiras, porém, fazem-no privilegiando, sobretudo, o consumo daquilo que está na moda. Adquirem roupa de marca e telemóveis com funções “multi-supérfluas”. Uns Ignoram as boas obras literárias, considerando-as “ultrapassadas”, outros, desconhecem mesmo a existência de autores de referência, tais como Eça de Queirós, Alexandre Herculano, Almeida Garret ou Fernando Pessoa.
Nos tempos que correm, o incentivo à leitura é precário, carecendo de uma maior força motivadora. Os jovens de hoje desprezam o acto de ler sob uma óptica estereotipada em que o corpo e a moda são mais importantes do que o conhecimento contido num livro. Outro factor que contribui consideravelmente para o declínio do hábito da leitura, embora não explicando tudo, é o contínuo desenvolvimento tecnológico. Inúmeros livros consagrados dão lugar às telas de cinema ou às últimas tecnologias, portáteis topo de gama ou jogos interactivos – quanto mais violentos e sangrentos melhor.Chegou a altura de ultrapassar a mera enumeração de dificuldades, que explicam o pouco que se lê e passarmos à acção. Assim, que atire a primeira pedra quem não tem duas horas livres para ler… Ora, está talvez na altura de desligar a televisão, o rádio e ir ler um livro. É de extrema importância enfatizar que a arte da leitura (sim, no sentido de transformação) é fundamental para o conhecimento. Ler uma obra agradável pode ser a alavanca necessária à alteração dessa difícil relação leitor/livro, possibilitando, quem sabe, que o ódio possa gerar o amor.
Infelizmente, muitos jovens não têm hábitos de leitura. É claro que há excepções, não podemos generalizar. Há sim jovens que gostam de ler qualquer estilo literário mas, na realidade, a grande maioria dos adolescentes não gosta nem quer ouvir falar em ler, principalmente os clássicos da literatura. Entretanto, não podemos culpar os jovens por essa aversão à leitura. Os livros, na sua maioria, têm uma linguagem muito difícil de compreender e esse motivo já é suficientemente forte para fazer os adolescentes cansarem-se e perderem a vontade de ler. Afinal, o que adianta ler e não entender nada? A leitura é muito importante para o ser humano, em qualquer fase da sua vida. Por essa razão, é preciso despertar no jovem o prazer de ler e para se conseguir isso, temos de nos inteirar dos seus gostos, as suas músicas preferidas, os seus pensamentos reconhecendo também que a internet, tida como inimiga por muitas pessoas, pode ser uma boa arma para ajudar a conquistar o gosto pela leitura. A tarefa de fazer o jovem gostar de ler pode deixar de ser tão difícil. Isso pode acontecer se houver um trabalho conjugado de pais e professores. Há que fazer os jovens ver que a leitura não é um"bicho-de-sete-cabeças", pelo contrário, até pode ser muito divertido e também pode acrescentar coisas boas nas nossas vidas.
O encanto das palavras remete o leitor para além de sim mesmo, enriquecendo o seu mundo e as suas expectativas. É esse o sentido pedagógico da leitura. Formar leitores, é participar num importante acto de cidadania, oferecendo uma ferramenta fundamental para ampliar nossa concepção do mundo e até alterá-la, transferindo-a para situações do nosso interesse.

Célia Lopes

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