Pese embora a importância de qualquer apoio, seja ele físico/mecânico, familiar, psicológico ou social, sempre carece de uma elucidação prévia para evitar erros decorrentes de uma incorrecta utilização. Se não, vejamos alguns exemplos:
Perante um muro que ameaça ruir, um simples suporte de madeira que não tenha em conta a verdadeira força da gravidade ou os seus alicerces sejam insuficientes, apenas poderá ser considerado como um "faz de conta" ou como o povo diz, para "encanar a perna à rã". A solução poderá passar por uma acção mais radical que provoque a queda do muro, para assim de novo o erguer em segurança, arredando de vez o perigo, para quem por ali passe. Mais um exemplo:
Uma família que tenha um elemento toxicodependente, que diariamente os pressione para obter cada vez mais dinheiro para consumir (com os prejuízos daí decorrentes em termos de saúde), causando uma verdadeira hecatombe no grupo familiar: o que é possível fazer perante o sofrimento que aquele padece, quando se encontra em estado de ressaca? Não esquecendo que o seu sofrimento é real, deveremos confrontá-lo com a gravidade da situação, embora abstendo-nos de atitudes condenatórias. Assim, deveremos promover o diálogo que possa levar à compreensão do necessário tratamento, ao mesmo tempo que, se devem fazer cessar todos aqueles apoios que possam suportar o processo de consumo. Ainda um último caso:
Uma família que viva uma situação de carência económica há já algum tempo e que tenha na falta de emprego, uma das principais causas. Se a isso lhe acrescentarmos o desânimo já instalado e a falta de motivação em relação à atitude a tomar, face à vida, às obrigações e responsabilidades sociais, provocando uma inércia em relação ao trabalho e às outras necessidades fundamentais da vida, o que devemos fazer em tal situação? Deveremos apenas socorrer esta família com produtos necessários à sua sobrevivência vital - de uma forma continuada - ficando-nos apenas pelas acções caritativas? Ou, para além do socorro material, que embora essencial não é bastante, deveremos socorrer-nos de outras acções que aproveitando as sinergias existentes, possam colocar aquela família na linha da frente e pronta a assumir responsabilidades e tomar as rédeas do seu destino?
Para nós o que faz verdadeiramente sentido é termos em atenção toda a estrutura que está em desequilíbrio e não apenas um elemento ou parte do todo. O nosso olhar deverá ser horizontal e desprovido de preconceitos, de que o problema está nos outros e, pior ainda, que nada há a fazer, como se nós fossemos os bons e aqueles outros, que atravessam situações de dificuldade e carência de qualquer ordem, representassem a maldade, a ignorância, o que não presta e se deve deitar fora.
Todas as contendas, todos os contratos, todos os acontecimentos em que intervêm os homens, têm pelo menos dois lados e não apenas, aquele que corresponde ao ponto de vista, que coincide com os nossos interesses e se adapta "à menina dos nossos olhos".
Urge assim, assumir uma postura despretensiosa evitando as atitudes eivadas de pré–juízos, olhando o nosso semelhante como alguém em dificuldade. Nós próprios poderíamos encontrar-nos numa idêntica situação e certamente que auguraríamos um tratamento respeitoso e solidário. Por isso, resta-nos agir em conformidade, como se fossemos nós, o destinatário da intervenção e do apoio. Esta postura, é viável, quer nos encontremos numa situação de intervenção voluntária, quer nos encontremos em intervenção decorrente da nossa actividade profissional.
Que gostaríamos nós de receber em tal situação? Apenas a oferta de bens ou serviços sem nos pedirem nada em troca, sem buscar a compreensão real da situação a justificar o apoio, ou antes dialogando e inventariando as várias dificuldades existentes e quais as forças potenciais a mobilizar. Que forças interiores disponíveis e prontas a usar, concorrendo como um verdadeiro cimento na construção de um projecto de vida, no qual, os apoios sociais poderiam servir de alavanca importante na implantação dos seus alicerces.
Se for esta a nossa postura, a nossa maneira de estar e intervir, certamente que estaremos no caminho certo e não nos ficaremos por apenas dar o peixe a quem tem fome. Se assim fizermos, estaremos em condições de almejar um papel mais importante, de cuja representação receberemos algumas alegrias e o sentido do dever cumprido. Ao assumirmos este compromisso social, estaremos então à altura da nossa humanidade. Assim, em cada dia que passa, poderemos renová-lo, participando neste trabalho gigantesco com o nosso pequeno óvulo, como agentes activos na formação integral do nosso semelhante, no qual venha a ter reflexos duradouros, dando-lhe a cana, com certeza, mas ensinando-o também a pescar.
S. Pedro do Sul, 10 de Janeiro de 2009.
José Roque
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